Maternar e empreender, ao mesmo tempo, pode parecer impossível à primeira vista. Mas, contrariando as expectativas, as duas atividades em conjunto podem significar a liberdade do exercício pleno da maternidade e financeira. No caso das mães do Vale do Jequitinhonha, isso pode ir além, trazendo um empoderamento até então desconhecido de muitas mulheres na região.

Mães muito jovens, muitas precisaram “se virar” para ajudar no sustento da família. E foi no maternar que encontraram a inspiração para o empreendedorismo, impulsionado também pelo Governo de Minas. Com a política pública do Projeto Vale do Lítio, conduzida pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Sede-MG), muitos investimentos privados em mineração foram atraídos para a região, movimentando cadeias produtivas, pequenos e grandes negócios e a economia local.

Andreia com a filha / Reprodução

Lítio impulsiona nova realidade

A chegada dos novos atores em Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, mudou a realidade de inúmeras mães e mulheres. Uma delas, a da doceira Andreia Gomes da Conceição, 34 anos. Passando por uma fase difícil e com três filhos, em 2020 a mineira, que se tornou mãe aos 16 anos, começou a produzir geleias para vender. A ideia veio a partir do exemplo da avó, que fazia o que ela achava, quando criança, ser “creme” de abacaxi. 

O negócio, porém, só deslanchou há pouco mais de um ano, quando conseguiu acesso a crédito por meio de um programa social de uma mineradora da região. “Muita coisa mudou (com o Vale do Lítio). Muitas mães de família que não conseguiam levar o sustento pra casa, hoje conseguem. Eram muitas pessoas desacreditadas, que tinham sonhos travados e, com esses investimentos, hoje têm um olhar diferente. Muitas pessoas voltaram a estudar e veem que podem ir muito além”, destaca Andreia, para quem o projeto social foi um divisor de águas e agora inspiração para o seu primeiro livro.

A secretária-adjunta de Desenvolvimento Econômico e também mãe, Kathleen Garcia, destaca a importância que o Governo de Minas tem em fomentar o empreendedorismo feminino na região.

“O empreendedorismo no Vale do Jequitinhonha vem tomando forma devido à força de mulheres e mães que escolheram lutar diante das dificuldades que sempre existiram em uma região extremamente carente de recursos. Com as ações promovidas por meio do Projeto do Vale do Lítio, a gestão do governador Romeu Zema cumpre a missão de gerar oportunidades para essas mães e mulheres. Oportunidades que tornam sonhos realidade”, afirma Kathleen Garcia.

Maternidade alimenta inspiração

A história de Andreia retrata a de muitas mães empreendedoras não só da região, mas de Minas como um todo, onde 67% abriram o próprio negócio após terem filhos. O dado do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae Minas) chama ainda mais atenção quando aponta que 62% dessas mães tiveram o primeiro filho antes dos 25 anos. 

Geralda Aparecida com a filha / Arquivo pessoal

É o caso da microempreendedora e servente escolar Geralda Aparecida de Aguilar, 52 anos. Também de Araçuaí, “Cida” se tornou mãe aos 23 anos e foi personalizando o caderno escolar do filho mais velho que descobriu o caminho do empreendedorismo. “Desde que o meu primeiro filho foi para a escola, eu gostava muito de bordar as capas dos cadernos dele. E assim continuei fazendo com os cadernos das minhas outras duas filhas, além de cartazes para a escola”, lembra. 

Especialista em artigos de papelaria personalizados, como cadernos e agendas, sacolas, lembrancinhas para aniversário, além de convites de casamento, Cida viu os negócios começarem a decolar com a chegada de novas empresas no município. “Eu não tinha empolgação, mas, com o Vale do Lítio, as empresas chegaram com tudo. Minhas vendas aumentaram 100%. Já recebi até encomenda de fora do estado e do país. As feiras que são realizadas também possibilitam que a gente conheça outras pessoas. Me sinto extremamente motivada”, conta.

Déborah Constantino, analista técnica do Sebrae Minas na regional Jequitinhonha e Mucuri, explica que as mulheres acabam se tornando empreendedoras após a maternidade muitas vezes por causa da necessidade de conciliar o maternar com os afazeres de casa e a busca por uma renda. 

Livre pra viver

“Outro fator é a necessidade de liberdade que a mulher precisa ter, e ela busca isso através do empreendedorismo, que acaba servindo como ferramenta de liberdade da mulher. Estando em uma relação abusiva, por exemplo, quando ela tem a renda própria, possui mais recursos para se retirar daquela situação junto com seus filhos”, avalia.

Lislene da Paixão Pereira, de 58 anos, outra moradora de Araçuaí, já tinha o empreendedorismo como paixão desde antes da maternidade, mas o nascimento de seus filhos fortaleceu sua veia empreendedora, juntamente com o desejo de conciliar o trabalho com o maternar. 

“A minha história é uma história de muita batalha. E, quando a gente batalha e corre atrás, a gente cresce na vida trabalhando. Sou filha de um pedreiro e uma auxiliar de serviço gerais, e meus pais me criaram trabalhando. E é isso que transmito aos meus filhos”, diz.   

Como artesã e funcionária pública, Lislene confeccionou o próprio enxoval para receber a primeira filha. E os elogios recebidos pelo capricho com o enxoval e pedidos de encomendas foram o incentivo que precisava.   

Com o progresso no Vale do Jequitinhonha, o empreendedorismo e o artesanato têm transformado a realidade da artesã e sua família. Ela conseguiu ajudar a filha, agora advogada, a concluir a faculdade de Direito, enquanto seu filho de 17 anos está prestes a se formar.